Relicário

"Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre." LISPECTOR, Clarice. "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres".

domingo, janeiro 28, 2007

descaminhos

"você só me fez mudar
mas depois mudou de mim
vai sem duvidar
mas se ainda faz sentindo, vem
até se for bem no final
será mais lindo
como a canção que um dia fiz
pra te brindar
você pode ir na janela
pra se amorenar no sol
que não quer anoitecer
e ao chegar no meu jardim
mostro as flores que falei"

fragmentos de "você pode ir na janela", do gram.

por que o gael garcía bernal?
porque 'diários de motocicleta' me lembra o culpado por ser essa a triha sonora atual: um também 'rapaz latino-americano' que tem 18 'anos de sangue, sonho e américa do sul' e, para minha admiração, tem me feito mudar, mas, para minha preocupação, às vezes parece querer se mudar de mim...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

a audácia dessas mulheres

não escrevo aqui há mais de uma estação...
a razão? haverá alguma que justifique o silêncio, quando o anseio primo é comunicação, em prol de compreensão?
talvez apenas 'o silêncio das línguas cansadas', que como Elis, também eu quis.
agora quero expressão, em cor ou voz (por hora, em caracteres virtuais).
transcrevo palavras alheias, de sentido, porém, uníssono ao que em mim vibra:

"mas agora, no recanto, de repente, contemplando o canteiro de rosas, ela via outro sentido na aparente mutilação daqueles tocos podados. davam-se à sua decifração como se fossem uma bússola para humanos, mostrando que de vez em quando é preciso cortar sem dó para que a seiva não se disperse e possa se concentrar toda no rumo do que é essencial. ousar uma perda efêmera para garantir a fartura da safra ainda guardada mais adiante. ter a audácia de apostar no recôndito e na sua força, contra todas as evidências da superfície visível, com seu viço momentâneo e sedutor."

MACHADO, Ana Maria. "A audácia dessa mulher".

li-o no terceiro ano da graduação em letras, em literatura brasileira. aos interessados, aviso que, para buscar compreendê-lo em sua plenitude, é imprescindível reler Dom Casmurro (como diria Ítalo, a vaidade intelectual não admite leitura dos clássicos, apenas releituras), para rememorar a versão de Bento para a história que Capitolina nos confidencia em audazes anotações, descobertas em um peculiar livro de receitas confiado à Beatriz, protagonista dessas páginas de Ana Maria. a audácia de Capitu foi viver o que sentia e acreditava, a despeito das convenções e expectativas. a audácia de Bia, nesse trecho transcrito, foi conscientizar-se da regeneração salutar do destruens et construens, transcender o estático, evitar o passo atrás.
e a nossa, qual será?

do the evolution, baby!
that’s all, folks ;)